Projecto Andriana I

Só me vens ao pensamento tu e aquela cama de hospital. Vivo tudo outra vez.
Durante um mês, todas as manhãs, ia te visitar, o caminho comecei a decorar, percorria o sempre a chorar.
Tinha de libertar a minha tristeza, antes de chegar até ti.
Sabes por quanto tempo me fiz forte? Me lancei à sorte, entrei em depressão.
Perdi o meu pai para a doença mais terrível e feroz, o cancro ganhou voz, domina o nosso século.
Sinto uma grande revolta, pela espera por quem não volta, é a mágoa que se solta.
Não sei mais de mim, nem sei porque fiquei assim, tão descontrolada nas emoções.
Podiam virar canções, estas palavras que a mente inventa, espero chegar aos setenta e ainda puder dançar.
Éramos o par perfeito, ai aquele teu jeito, fazia qualquer um sorrir.
Era um misto de robótica, com um balançar de cintura peculiar, lá estavas tu a desafiar, alguém para dançar.
A música dos anos 80 começava, aí a malta agitava, só em ver a tua emoção.
O rock and roll deixava te eufórico, registado está esse momento histórico, que não me canso de rever.
A mãe apreciava te, com o jeito dela resmungava te, por teres abusado no copinho, ai o verdinho.
Ninguém te resistia, a noite contigo fluía, como era preciosa a tua companhia.
Tu despertas a minha alegria, não há espaço para agonia. Num passo de magia, fazes a dor desvanecer.
Hoje vou adormecer.
As insônias libertaram a minha mente, vou descansar mais contente, ao lembrar o quanto eras sorridente.
Boa noite querido Pai.
AO